O Chamado.

Catedral de Santiago

Foi por volta de 1998, com 22 anos de idade logo após iniciar na faculdade, que tive conhecimento pela primeira vez sobre o Caminho de Santiago da Compostela. Como muitas pessoas também o fizeram, o meu primeiro contato foi através do livro "O Diário de um Mago" do renomado escritor Paulo Coelho, por acaso o primeiro livro dele, marcante e bem escrito, me cativou nas primeiras páginas por causa do propósito e dos detalhes que ele descrevia durante o livro.




Me lembro que naquela época compartilhava muitas passagens do livro com meu colega de classe e hoje grande amigo Ulysses Magalhães, que por sinal foi uma das primeiras pessoas que fiz questão de contar todos os meus planos e pensamentos sobre a decisão de fazer o Caminho. 

O Caminho de Santiago sempre esteve presente em minha memória, como algo importante que eu deveria fazer, ainda me lembro, logo após terminar o livro, com ele fechado descansando sobre meu colo, pensando em voz alta: "Prometo que quando fizer 35 eu faço ele!".

Neste ano de 2012 completo 35 anos em Julho, e estou me preparando para o Caminho mas a decisão não veio assim tão rápido, nem tão simples assim, não pense que eu fiquei desde de 1998 me lembrando que em 2012 eu faria o caminho, na verdade parece que tudo conspirou a favor e "O Chamado" chegou bem em tempo de me preparar fisicamente e mentalmente.

O tal do "O Chamado" como é conhecido, é dificil de explicar em palavras. Na verdade é um sentimento repentino, uma explosão de afirmações, uma convicção explicita de que você vai fazer o caminho em determinada época, algo que aparece como pronto e decidido, uma decisão tão forte que você possue a convicção de que nenhum obstáculo irá te impedir de prosseguir. A partir deste momento "O Chamado" torna o caminho inevitável e sua cabeça passa a pensar nisto todos os dias, todas as horas, todos os momentos até a concretização do caminho. É impossível lutar contra esta força interior de origem inexplicável.

Acredito que "O Chamado" começou a dar seus primeiros sinais durante uma viagem que fiz a negócios para Taiwan no começo de Dezembro de 2011. Era minha sexta vez em Taiwan, eu iria ficar 15 dias desta vez, sentindo muito a falta da Paula (minha esposa) e da Julia (minha filha) que nesta época estava com um pouco menos de 2 anos de idade.

Me lembro de sentir algo diferente antes desta viagem, queria fazer algo legal e meu colega de trabalho, Brillate Lin, que por sinal é Taiwanês, estava trabalhando conosco no escritório da ASUS no Brasil. Ainda me lembro, foi via messenger que perguntei para ele se existiam coisas legais para fazer em Taiwan além dos pontos turísticos normais de Taipei que eu já havia visitado por outras tantas vezes. Depois de dizer todos os lugares que eu já havia visitado eu perguntei se não havia mais nada de interessante, poderia ser em outra cidade ou em outra parte da ilha uma vez que estaria passando um final de semana inteiro em Taiwan.

Ele prontamente respondeu "Taroco", um lugar com beleza natural exuberante, a menos de 30 minutos de avião de Taipei.

Procurei fotos na internet, e aquela idéia de me embrenhar em território desconhecido, conhecer coisas e lugares novos mesmo que por um dia me deixou extremamente excitado. Precisava fazer aquilo.

Taroco - Taiwan

Foi com meu grande amigo e colega de trabalho, Güido Alves, que encarei esta viagem de avião até Taroco e retornando no mesmo dia de trem (cerca de duas horas e trinta minutos de trem).

Mais fotos e vídeos da nossa viagem para Taroco aqui:
Taroco - A curva do rio.
Taroco -  Dentro das passagens.
Taroco - Vídeo das passagens.
Taroco - Vídeo da praia.

Taroco reacendeu em mim o espírito por aventura, pelo desconhecido. Foi lá que senti novamente aquela vontade de conhecer o mundo, ir para lugares novos, viajar para expandir meus horizontes, parte do "O Chamado" nascia ali sem eu perceber.

Nesta viagem a Taipei tive a oportunidade de praticar minhas corridas matinais que completavam 04 meses de retomada. Saia do Hotel ainda escuro, muitas vezes chovendo, e prosseguia 05km em uma direção, e retornava para hotel completando 10km de caminhada+corrida. Eu estava pesando algo em torno de 110kg, mas já estava bem melhor do que os 117kg que eu me encontrava em Agosto do mesmo ano. (Só para constar, meu peso ideal é 98kg)

Durante estas corridas eu me sentia um verdadeiro estrangeiro, correndo debaixo de chuva, ensopado, branco, alto (1,91m) e bufando feito um toro observando as feições dos Taiwaneses em pontos de ônibus,  metro e até um grupo de Tai-Chi que ficava na estação de Dansui.

Existe um momento especial durante estas corridas, um presente Divino, um momento que me fez refletir e pensar em muitas coisas, estava chovendo e o dia vinha amanhecendo, uma clareira se abriu no céu e um lindo arco-iris nasceu bem na minha frente, por sorte estava com meu iPhone e parei para tirar uma foto deste momento mágico.

E um arco-iris nasceu após uma baita de uma chuva em Taipei.

Quando voltei para o Brasil tinha agendado uma reunião com o Ameno Netto da AMD. Fazia muito tempo que não nos víamos  algo em torno de 06 anos. A reunião foi na sede da ASUS e logo depois fomos almoçar. Durante o almoço conversamos sobre uma série de coisas, em determinado ponto perguntei o que ele havia feito depois que deixou a Intel, foi quando ele me contou a seguinte história:

"Quando sai da Intel passei por um período de busca, dei uma surtada, fui fazer o Caminho de Santiago e depois outras duas peregrinações, tinha guardado um bom dinheiro e por isso estava tranquilo e pronto para fazer estas viagens malucas."

E foi neste exato dia, na semana que precedia as férias coletivas da empresa, que "O Chamado" me atingiu em cheio. Os 10 dias de férias coletivas do final do ano de 2011 foram praticamente dedicados as pesquisas que iniciei na Internet sobre o Caminho de Santiago. Quanto mais me informava mais vontade eu tinha de fazer o caminho. Inúmeras foram as vezes que acordei de madrugada com a idéia fixa de fazer o Caminho, e toca ir para a internet e procurar mais alguma coisa, ler um pouco mais e mergulhar ainda mais de cabeça nesta vontade incontrolável.

Ao voltar do recesso já estava claro na minha mente que não havia mais volta. "O Chamado" me alcançou e com ele uma série de incertezas que só poderiam ser sanadas depois que eu fizesse o caminho efetivamente.

Durante a CES de 2012 (feira anual de eletrônicos em Las Vegas) fiz uma série de pesquisas de equipamentos e comprei a bota e o casaco da Timberland para fazer o caminho. Em 01 de Fevereiro de 2012 já havia comprado minha passagem logo após a falência da Spanair, quase que caio nessa, mas no final foi bom para mim pois antes disto não conseguia comprar uma passagem para Madri direto com a United, e logo após a derradeira saída da Spanair a United colocou um voo para Madri saindo de Newark, e o preço ficou dentro dos mais baratos. Tudo conspirando a favor!

Meu conselho vai para aqueles que ainda não ouviram "O Chamado", sem ele não prossiga, sua chance de desistir da idéia ou mesmo de desistir no meio do caminho pode ser muito grande pois são inúmeros os obstáculos que você irá enfrentar, abaixo listei alguns que estou enfrentando no momento:

01 - Aval da Família;
02 - Aval do seu superior na empresa que trabalha;
03 - Preparação física adequada;
04 - Preparação mental no tempo necessário;
05 - Planejamento logístico do caminho;
06 - Pesquisa do que levar, quanto levar e o equipamento certo que deve-se comprar;
07 - Condições financeiras para completar o caminho sem se preocupar com isto durante o caminho;
08 - Calendário que faça sentido as condições climáticas ideais e a sua disponibilidade de tempo para percorrer o caminho;
09 -  Procurar aconselhamento com pessoas que já fizeram o caminho;
10 - Entender que não é você que escolhe fazer o Caminho, é o Caminho que escolhe você.

Em um próximo post vou explicar melhor cada um dos 10 pontos citados acima e que hoje, antes de percorrer o Caminho, me tomam bastante tempo.

Hoje tenho a convicção de que nada vai me impedir de fazer O Caminho de Santiago pois eu escutei "O Chamado" e ele vai me levar até lá custe o que custar.

Mesmo indo para o trabalho, no meu carro, só pensava em fazer o Caminho.