segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Duas pedrinhas e três amuletos.

Velas em Cores - Candles in ColorsÉ incrível como nos apegamos a rituais e coisas como amuletos.

O misticismo por trás e o famoso jargão do "é melhor ter/fazer do que não ter/fazer", nos convencem de que algo desnecessário se torne essencial.

Por outro lado é legal ter algo para se apegar, lembrar que sempre têm algo a mais te protegendo, de que você não está sozinho e lembrar que cada amuleto têm uma história por trás e te conecta de alguma forma as pessoas que te querem bem.

Já os rituais fazem parte de um legado cultural que precisa ser repetido durante décadas para alcançar o status que lhe faz jus ao nome.

Comigo vão três amuletos, com o objetivo de me protegerem durante o Caminho de Santiago de Compostela, mas cada um têm uma história diferente que merece ser contada.



Neste post, através deste cinco objetos, conto várias estórias de pessoas e lugares que se cruzam na minha vida criando uma verdadeira rede de coincidências, cada uma e cada um em seu devido tempo e espaço com um propósito bem definido, formando um caminho na minha vida que vêm sendo percorrido antes de iniciar o Caminho de Santiago de Compostela.


Os três amuletos:

1 - O escapulário de Santo Expedito da Paulinha


Escapulário de Santo ExpeditoEm 2006 fui demitido da empresa que mais havia gostado de trabalhar até aquele momento da minha vida. Quando comecei na Intel Semicondutores a empresa tinha uns 40 funcionários no Brasil e por volta de 80 na América Latina.
Eu literalmente amava a empresa e sua cultura, aprendi muito sobre o mercado de tecnologia e por causa da chance que a Intel me proporcionou, e as pessoas que acreditaram em mim naquela época, me tornei um profissional do ramo de tecnologia.

O corte da empresa em 2006 me pegou de rasteira, eu realmente não esperava fazer parte do facão que era iminente.

O Guido Alves lembra bem daquela época pois sentávamos um de frente para o outro e apesar de nossas funções nunca se cruzarem diretamente fazíamos parte do mesmo time e tínhamos uma boa convivência pois gostávamos de muitas coisas em comum. Por ironia do destino ele também foi dispensado no mesmo dia que eu e anos depois voltamos a trabalhar juntos na ASUS. O papel que ele veio a desempenhar na ASUS acabou sendo fundamental para construir o departamento de marketing da empresa no Brasil.

Intel ASUS
A da esquerda tirada no ano 2000, a da direita tirada no ano 2012.

Após o corte da Intel entrei em uma espécie de "Depressão Profissional", apesar de participar de várias entrevistas nada ia para frente. Sempre chegava nas finais das seleções, mas não era o escolhido. Foram diversas entrevistas para dezenas de vagas, algumas como a de Gerente de Marketing para Xbox no Brasil e também Gerente de Marketing para a divisão de impressoras na Samsung que quase deram certo e me marcaram pois eram posições que me interessavam muito naquela época. Houve também uma tentativa de voltar para a Intel, mas algumas pessoas barraram a minha entrada por questões políticas, o que naquela época acabou me deixando muito mais deprimido.

Queria e precisava voltar a trabalhar, mas como a Intel sempre foi uma mãe, ela não me deixou desamparado, nem eu nem ninguém que saiu naquele corte, e o dinheiro que ela nos deu como indenização foi muito acima do que a lei determinava e com isso pude tomar a decisão de descansar por três meses. Neste descanso muitas coisas aconteceram, resolvi tomar conta do meu corpo, corria quase todo dia, pelo menos 08km, encontrei uma cachorrinha na rua, a Nina, que passou a ser minha companheira, fazíamos quase tudo juntos, até correr comigo a Nina corria.

Lobinha - Female Wolf
A Nina me fez companhia durante meu período "between jobs".
No mesmo período outro amigo meu o Ulysses Magalhães também estava desempregado, ele vinha com frequência me visitar no apartamento que eu morava no Morumbi. Longas conversas e muita cerveja deixavam claro para nós dois que aquele momento em nossas vidas era único, que tínhamos que aprender com ele e aproveitar o descanso daqueles dias pois quando voltássemos a trabalhar íamos nos dedicar como nunca ao novo emprego e aquele momento que vivíamos não ia voltar tão cedo.

Pois bem, com 06 meses sem conseguir me recolocar o dinheiro simplesmente acabou e o desespero de arranjar um emprego a qualquer custo apareceu e tomou conta da minha vida. A Paulinha passou a arcar com as despesas da casa e segurou a barra de um homem desempregado e deprimido. Ela mais uma vez se mostrou parceira, e por mais difícil que este momento de crise financeira foi para nós dois ela se manteve do meu lado mostrando que era a mulher da minha vida mais uma vez. Crises financeiras como esta que passamos podem literalmente acabar com relacionamentos.

Finalmente, depois um Happy Hour com amigos (mas na caça por emprego) encontrei o Cazou, antigo colega de trabalho na Intel que estava trabalhando na Agência One Digital. Ele me ajudou me contratando para iniciar a área de planejamento da agência. Não era fácil trabalhar com ele, mas eu também era uma pessoa bem da difícil, no final nos dávamos muito bem pois ambos tinham o mesmo objetivo, fazer o melhor possível.

Fiquei na One algo em torno de 06 meses, ainda procurando por outro emprego que pudesse me pagar  mais pois ali era apenas uma ajuda, mal dava para pagar minhas contas, mas foi essencial para dar o tempo que eu precisava até me reerguer.

Foi na One que conheci o Xocolate, um colega de trabalho com quem tive grande afinidade e também o Otto Klaus, outro colega que virou amigo.

Da esquerda para direita - Simone, Rodrigo, Erica, Xocolate, Marcel.
Este foi um projeto muito legal que desenvolvemos clique aqui para saber mais.
Naquela época eu ainda era muito arredio e imaturo como profissional, não gostava da idéia de trabalhar em uma agência e muito menos de ser apenas um subordinado novamente depois de comandar um time de mais de 15 pessoas espalhados por toda a América Latina. Que bobagem a minha, eu tive que re-aprender a ser gente e a entender que cargo não diz nada, que o mais importante é como você se sente consigo mesmo.

No final, mais uma vez a vida veio me ensinar uma lição, pois foi na marra, comendo marmita para economizar o dinheiro do almoço e aprendendo a engolir os sapos como exercício de auto-controle que voltei a entender o real valor de algumas coisas importantes. A Intel foi muito boa, mas é uma empresa que depois de alguns anos trabalhando lá dentro te causa uma cegueira, é preciso de tempo para se desintoxicar e tomar algumas doses cavalares de realidade na veia para voltar a entender onde você realmente se encaixa. Ficou claro que não era Eu, era a empresa que abria as portas, Eu era só uma ferramenta da empresa, o que não é diferente de nenhuma outra grande empresa.

Finalmente, após muita procura, havia conseguido outro emprego que me pagaria mais que na One. No fiinal fiquei triste de sair da One, uma verdadeira contradição com minha primeira impressão sobre trabalhar em agências, e muito grato pela ajuda que o Cazou me deu, ainda devo isso a ele.

Entrei numa empresa completamente descontrolada, onde o dono um Argentino Judeu tinha hábitos malucos. Me lembro que junto comigo entraram dez pessoas, depois de um mês de empresa somente três pessoas, contando comigo, ainda restavam na empresa. O cara era doido mesmo, abria a porta da sala suado, ofegante olhava para todo mundo e fechava a porta batendo forte sem se quer dizer uma palavra. Pagava os funcionários com cheques e não queria saber muito de novas idéias. O escritório era velho e feio, ficava no centro da cidade de São Paulo. Depois de 01 mês e duas semanas sai da empresa.

Ainda me lembro da última conversa que tive com o maluco: "Estou saindo por que ainda não briguei com você, existe uma incompatibilidade cultural, e Eu não me encaixo.". E fui embora deixando um departamento de marketing que eu estava reconstruindo.

Que fria que me meti. Voltei a ficar desempregado! Affffff de novo! Nada dava certo!

Não podia ficar parado novamente e comecei a ir na pequena empresa de um amigo meu, Bernard Shultze, ele também havia sido demitido da Intel um mês antes da minha demissão, mas ele tomou outro rumo e decidiu abrir o próprio negócio, este novo negócio era algo muito recente no mercado e ele chamou a empresa do nome mais simples possível que descreve exatamente a função do negócio SEO Marketing.

Eu ia lá quase todo dia, ajudava ele no que dava, não ganhava nada mas pelo menos ocupava meu tempo entre uma entrevista e outra. Ele acreditava que a empresa tinha grande potencial, eu também acreditava nisto mas naquele momento a coisa era muito embrionária, não tinha como ele me ajudar. Engraçado olhar para trás e lembrar que a SEO Marketing, hoje uma empresa com mais de 40 colaboradores, líder no seu segmento, cresceu no meio de tanta adversidade, e mais engraçado ainda foi re-encontrar esta empresa na ASUS quando começamos a investir em mídia on-line. Começamos a trabalhar juntos novamente, mas desta vez eu como cliente e ele como fornecedor. Eles ganharam a concorrência e fizemos um trabalho tão bom e inovador para o mercado brasileiro na época que viramos até case de sucesso no Google Brasil.

No vídeo abaixo eu estava ficando já "super-gordo" e o Schultze ainda usava cabelo curto.


Foi neste momento que a Paula resolveu fazer uma promessa em meu nome. Ela recorreu a Santo Expedito para que me ajudasse a encontrar um novo emprego o mais rápido possível.

Dois meses depois estava empregado e trabalhando na Myatech, foi lá que tive a chance de me aproximar de uma empresa que estava começando a operar no Brasil, a ASUS. Eu já conhecia a ASUS de outras viagens ao exterior e também do fato de eu conhecer bem o mercado de tecnologia. Fui para ASUS e estou lá até hoje feliz da vida com o trabalho que realizo.

Marcel Campos - Myatech
Eu odiava trabalhar de gravata...
Ainda odeio mas agora só uso quando é indispensável.
Mas logo depois de entrar na Myatech a Paula chegou em mim e disse:

"Precisamos pagar a promessa que eu fiz para você."

Puxa, eu tinha que pagar uma promessa que alguém fez para mim!!!
Essa modalidade de promessa foi novidade para mim, mas tudo bem, ela tinha razão.

A promessa consistia de irmos andando da casa onde morávamos de aluguel no Morumbi até a Capela de Santo Expedito no bairro da Luz em São Paulo.

Foram 17km de caminhada, começamos pela manhã bem cedo para não chegarmos muito tarde na Capela de Santo Expedito da Polícia Militar de São Paulo. O trajeto você pode ver no mapa abaixo.



Engraçado pensar hoje que este foi o primeiro trajeto onde caminhei uma larga distância por algo religioso, um primeiro contato com uma espécie de peregrinação.

Ao chegarmos a Capela de Santo Expedito a Paula comprou e me deu um escapulário de Santo Expedito e Santa Maria. Nasce ai meu primeiro amuleto que levo comigo em meu peito desde 2007.


 2 - O Patuá Japonês do Sr. Nagano

Omamori - Patuá JaponêsO nome correto é Omamori, mas antes de entrar na descrição do que é um Omamori preciso contar um pouco sobre o Sr. Mário Nagano.

A primeira lembrança que tenho do Sr. Nagano foi no evento de 20 anos do PC no Buffet Rosa Rosarum em São Paulo no ano de 2001. Eu era apenas um estagiário, começando a entender como funcionava o mercado de tecnologia. Neste evento pela primeira vez tive contato com a mídia especializada de tecnologia do Brasil. Mario Nagano era figura importante entre os jornalistas. Me lembro até hoje que o Paulo Lamana da Intel, considerado um dos técnicos que mais entendiam da arquitetura Intel na época, estava conversando com o Nagano durante o evento, uma pessoa de PR passou e comentou, "olha ali o Nagano com o Lamana".

De vez em quando lia alguma matéria publicada pelo Sr. Nagano. Ele sempre foi figurinha carimbada no cenário de tecnologia do País.

No final de 2008, começo de 2009, já estava trabalhando na ASUS e meu cargo de Gerente de Marketing consistia em cuidar tanto de Notebooks/Netbooks como também de Placas-Mãe e Placas de Vídeo, os únicos produtos que comercializávamos no Brasil naquela época.

Precisava encontrar os jornalistas chave do mercado para iniciar um trabalho de reviews dos nossos produtos no Brasil de forma oficial.

Advinha quem foi o primeiro? Sr. Nagano!

Meu contato com ele começou a aumentar significativamente, ele precisava de informações dos produtos e eu respondia prontamente.

Houve um evento de lançamento da ASUS no Brasil, onde mostrávamos para a imprensa brasileira pela primeira vez nossa linha de produtos. Eu organizei este evento praticamente sozinho com grande ajuda do Edson Ogata meu amigo e Designer na ASUS, de Alexandre Cobra e da ViaNews nossa agência de relações públicas. Foi neste evento que tive um encontro cara-a-cara com duas pessoas que se tornaram grandes amigos, Jacson Boeing e o Sr. Mario Nagano.

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Primeiro escritório da ASUS no Brasil - 2008.
Conforme a ASUS foi crescendo eu fui conquistando mais recursos para o time de marketing, aumentava o time e criava o que na minha concepção seria o time mais adequado para aquele momento, porém era bem claro que apenas algumas poucas pessoas teriam a habilidade de trafegar de um estágio da empresa para outro.

A ASUS no Brasil ainda era muito pequena, quando entrei existiam apenas 04 pessoas registradas no Brasil, naquele estágio não existia verba de marketing, não tinha dinheiro para quase nada e eu sempre tinha que pedir a benção para o responsável pela operação no Brasil, John Chen. Foi com o John que travei a batalha de levar para a CES de 2010 em Las Vegas um grupo de 04 jornalistas pagos pela ASUS, precisávamos de mais exposição, na CES nossa presença seria marcante, podíamos e deveríamos tirar proveito disto.

Assim que consegui o OK do John, depois de muita dor de cabeça totalmente dispensável, comecei a ligar para minha lista de jornalistas. Paulo Couto do Forum PCs, Jocelyn Auricchio do caderno Link do Estado de São Paulo, Jacson Boeing do Adrenaline, e Mario Nagano do Zumo.

No caso do Sr. Nagano, quando liguei e o convidei formalmente ele me confessou que até aquela data ninguém nunca tinha levado ele para a CES. Fiquei pasmo! Como assim? Bem, por algum motivo ele nunca tinha ido para a CES e agora estava bem contente pelo convite.

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Sr. Nagano no topo à esquerda entrevistando um executivo da ASUS em Las Vegas - 2010.
Na mesma foto estão Paulo de casaco marron, Jocelyn de camisa listrada e Jacson no canto direito.

Durante o evento fiz de tudo para que a viagem fosse algo mais do que apenas mais uma viagem para cobrir uma feira de eletrônicos. Levei todos para passear por Vegas, já conhecia bem a cidade de outras viagens e CES´s.

Um ponto importante nesta viagem a CES foi a entrevista exclusiva que consegui para o Jocelyn do jornal O Estado de São Paulo com o Chairman da ASUS Sr. Jonney Shih. O Sr. Nagano me pediu encarecidamente se ele podia assistir a entrevista, eu disse que sem problemas, mas que ele por favor não fizesse nenhuma pergunta ou interrompesse a entrevista. A entrevista foi demorada, a equipe que acompanha o Chairman estava no meu pé para que eu encerrasse a entrevista o quanto antes pois o tempo estava estourado.

Quando consegui encerrar a entrevista o Sr. Nagano me levanta a mão e diz:

"Tenho uma pergunta!"

Neste momento quase tive um ataque cardíaco e o Sr. Nagano depois de um silêncio interminável de 03 segundos disse:

"O Senhor poderia tirar uma foto comigo?"

Meu Deus, quase morri do coração, mas o clima ficou descontraído e ele saiu com a foto dele.

Johney Shih & Jocelyn (2)
Jocelyn do Jornal O Estado de São Paulo em entrevista à Jonney Shih - CES 2010.

Essa proximidade, e a piadinha quase mortal, fez nascer uma amizade que dura até hoje pois conversamos sobre o que rola no mercado como últimas tecnologias e lançamentos.

Um belo dia, em um dos almoços que fazemos periodicamente com a Mídia o Sr. Nagano me trouxe um pequeno presente.

Disse ele:
"Marcel, meu, esse é um presentinho para te proteger nas suas viagens pelo mundo, já que você vai muito para Taiwan (cerca de 34 horas de viagem) ele deve ser bem útil."

Era um pacotinho verde, com inscrições em Japonês bordadas na frente em dourado com um laço branco no topo.

Entendi que era um amuleto, mas ai Sr. Nagano voltou a me explicar:

"É um Omamori, é uma espécie de Patuá Japonês."

Curti o presente de imediato! Coloquei em minha carteira e desde então está sempre comigo.


Segundo um website sobre Talismãs Japoneses segue a descrição do que é um Omamori:

"Muito semelhantes aos nossos patuás, os Omamori são pedaços de papel com uma oração impressa.
Trazem proteção, riqueza e sucesso. São conseguidos em templos budistas e xintoístas e deve estar sempre junto da pessoa, como um pingente. Existem também alguns modelos, em madeira ou metal, para serem guardados em casa ou na  bolsa. Esses pequenos amuletos servem para tudo, desde proteger a casa até arranjar um bom casamento. São colocados em saquinhos, contendo nomes de divindades e palavras de oração para proteger dos maus espíritos e catástrofes. Os benefícios mais comuns são: proteção no trânsito, aprovação no exame vestibular, sucesso nos negócios, bom parto, proteção contra doenças e azares. Os mais estranhos ficam por conta de talismãs denominados “tama no koshi” para quem deseja se casar com uma pessoa rica, “kyugi tokon omamori” para os que querem se sair bem em esportes que utilizam bola, amuletos de panda para os que desejam se tornar famosos, entre outros. Quanto aos formatos, são muito variados, tendo amuletos no formato até de alças portáteis, selos e de personagens famosos."


Como não levei minha carteira na viagem tirei ele da minha carteira e coloquei na minha pochete, veio comigo até aqui me protegendo e de jeito algum vou deixar ele fora da minha viagem.

Ta ai mais uma proteção para meu Caminho a Santiago.


3 - O chaveiro de Santiago do Ameno

IMG_3137 Conforme minha viagem ia se aproximando meu contato com o Ameno ia aumentando. Ele foi uma pessoa chave para o meu Caminho, um verdadeiro mentor conforme já expliquei em posts anteriores.

Na última semana que antecedia minha partida o Guido resolveu marcar um almoço com o time de pessoas mais próximas na ASUS, basicamente consistia do meu time de produtos e do time de marketing que ele comandava. Na surdina ele também chamou 03 pessoas que não eram da ASUS:

Eric Kuwabara, ele tinha acabado de virar gerente de contas dentro da Intel para atender a ASUS no Brasil, como parte da rampa dele eu sugeri que ele passasse 03 dias por semana durante um mês dentro de nossos escritórios para aprender como operavamos, o que calhou de ser justamente no período que antecedeu minha viagem para Santiago de Compostela.

Reinaldo Ribeiro, também gerente de contas da ASUS porém ele exercia esta função na Microsoft. Ribeiro veio se tornando um grande amigo em virtude da proximidade e intensidade dos trabalhos que estavamos executando. Com o passar do tempo conversávamos sobre o Caminho de Santiago e ele se interessava mais e mais pelo o que era o Caminho. Eu mesmo replicava algumas histórias sobre o Caminho que o Ameno me contava ou que eu tinha lido em algum lugar na Internet. Cheguei até a marcar um almoço com o Ameno e com o Ribeiro juntos para eles se conhecerem e trocarmos idéias sobre o Caminho. Foi interessante ver ao longo do tempo como minha viagem a Santiago começava a influenciar na vida das pessoas a minha volta e talvez no Ribeiro esta influência foi ganhando proporções maiores até o ponto de ele se convencer que gostaria de fazer o Caminho um dia.

Ameno Neto, gerente de contas OEM´s na AMD, ele também atendia a ASUS.

Me lembro de pensar naquele dia quão interessante era ver a indústria de tecnologia reunida por causa de um louco como eu que decidiu fazer um Caminho em uma terra distante. Este Caminho realmente une as pessoas de alguma forma que ainda não compreendo.

Neste almoço, infelizmente Guido não pode participar, o Vô dele tinha acabado de falecer.

Engraçado foi observar durante o almoço as reações das pessoas em relação a jornada que eu estava prestes a iniciar. Alguns já sabiam e usaram este almoço para pegar mais detalhes, outros ficaram sabendo ali mesmo o que eu ia fazer e queriam entender os motivos, porém alguns estavam ali para me dar apoio e dizer boa sorte.

Foi durante este almoço, onde sentei ao lado do Ameno que ele me passou um pacotinho com algo dentro. Como haviam muitas pessoas ali eu agradeci ao Ameno e disse que abriria o presente depois.

Fui uma boa surpresa descobrir que o presente era um chaveiro lindo de Santiago, com a Cruz de um lado e as inscrições que indicavam que era de Santiago e o ano que foi feito do outro. O ano era o de 2010, o mesmo ano que o Ameno completou a viagem dele, este chaveiro veio de lá de Santiago de Compostela e ele guardou para dar para alguém que fizesse o Caminho futuramente, e lá estava eu indo para o Caminho com o chaveiro que veio de Santiago de Compostela.

Pendurei o chaveiro na minha pochete, tinha que ficar visível, veio de um Conchero para um futuro Conchero e merecia um lugar de destaque em toda a parafernália que eu estou levando.


As duas pedrinhas:
Já as duas pedrinhas fazem parte de um ritual quase que milenar.

A história, acredita-se, começa a mais de mil anos em um marco do Caminho a Santiago conhecido como a Cruz de Ferro.

Cruz de Ferro - No chão as pedras de cada Peregrino.
Reza a lenda que este marco existe muito antes do próprio Caminho, remonta as épocas de dominação Romana na região e era usada para demarcar o território entre as regiões da Espanha. Neste local se encontram milhares de pedras que foram trazidas por Peregrinos de todo o mundo. Estas pedras provêm do local de partida de cada pessoa.

Alguns dizem que elas simbolizam os seus pecados, que deve-se carregar por todo o Caminho até a Cruz de Ferro e lá você a deixa simbolizando a libertação dos pecados que você carregou durante toda a sua vida. Quanto maior a pedra maiores foram os seus pecados.

Outros dizem que é apenas uma maneira de deixar um pedaço do seu mundo no Caminho.

Ela fica entre as cidades de Leon e Ponferrada, inclusive é possível visitar a Cruz de Ferro no Google Street View:





Para mim ela significa que estou entrando na última etapa do Caminho, se chegar até ela como pretendo saberei que alcancei os últimos 260km até Santiago e que terei percorrido algo em torno de 540km, um verdadeiro marco do meu Caminho e um ponto de referência para mim.

Comigo vão duas pedrinhas para deixar na Cruz de Ferro, porém elas não representam pecados, para mim representam algo muito maior.

A primeira é uma pedrinha que recolhi em Taroco, em viagem já citada anteriormente no post "O Chamado". Não tinha idéia que a levaria para o Caminho quando a peguei, decidi depois, já por volta de Maio que levaria esta pedrinha comigo e que o destino final dela seria o Caminho de Santiago de Compostela.

Ela representa minha conexão com a ASUS, a empresa que acreditou em mim para valer e me deu as condições de evoluir como profissional. Funciona como uma homenagem a empresa e também para aqueles que acreditaram em mim. Levo ela comigo com muita honra e com um sentimento de que tudo aquilo que almejamos como um objetivo na vida é possível.

Untitled
E foi nesta praia em Taiwan, onde as pedras de Taroco se acumulam na praia depois de levadas
pelo rio até o mar onde peguei minha pedrinha para o Caminho de Santiago.


Foi também nesta viagem para Taroco e nesta praia que fiz pela primeira vez um vídeo usando a camera frontal do meu iPhone para conseguir gravar eu mesmo andando e descrevendo algo. Foi aqui que nasceu a idéia de fazer vídeos durante o Caminho parecidos com esse, contando o que eu passarei, uma espécie de guardar o momento e o que eu estarei sentindo naquele momento. Mas tenho muito que aprender pois o vento literalmente matou o som e não dá para escutar nada do que eu digo. :(



Já a segunda pedrinha envolve minha família.

As pessoas que mais amo na minha vida são minha filha Julia e minha esposa Paula que carinhosamente as chamo de Juju e Paulinha.

Esta pedrinha eu peguei no jardim de nossa nova casa, a casa que ficará na memória da Juju como o lar onde ela foi criada.

A intenção desta pedrinha é simbolizar minha passagem pelo Caminho como Pai e Marido, depositar na base da Cruz de Ferro um simbolo do meu amor e dedicação por elas.

Pode parecer simples e singelo, mas só de pensar nisto sou dominado por sentimentos fortes e sinceros e meus olhos enchem de lágrimas.

Encerro este longo post com o vídeo que gravei um dia antes de minha partida onde mostro para a Juju a pedrinha que vou levar comigo para o Caminho de Santiago. Mesmo sabendo que ela hoje não entende direito o que isto quer dizer sei que um dia, quando ela tiver mais idade para entender o que estou fazendo, ela vai poder assistir este vídeo e lembrar de quanto o Pai dela a ama e que mesmo sentindo uma saudade antecipada gigantesca por ficar longe por tanto tempo em uma jornada solitária, ela e a mãe dela estarão sempre comigo durante todo o Caminho.

2 comentários:

  1. Marcel

    Adorei a postagem, muito rica em detalhes, que fazem com que a gente não queira parar de ler, sem falar na sua forma de escrever, que é super agradável.

    Adorei saber que vc foi um dos abençoados por Santo Expedito, e que benção!!Também sou devota dele.

    Deus conserve sua sabedoria e eloquência.

    Você é muito talentoso!!Parabénsss!

    Gostaria de aproveitar e tomar a liberdade de sugerir que você escrevesse um livro....... sim um livro!

    A maneira com que vc escreve e se comunica é fantástica e tenho certeza que seria muito interessante ler a sua experiência relatada e principalmente socializada.

    Acredito piamente que nada acontece em vão na vida e talvez esta seja a sua missão, contar ao mundo o que viveu e as emoções que sentiu e pelo visto não foram poucas!

    Oferecer este turbilhão de emoção para que várias pessoas possam ter a oportunidade de se emocionar junto com vc, como foi meu caso.

    Pense nisso!!

    Bjs para sua linda filha Júlia e para Paula também, espero conhecê-las em breve.

    Te amo muito, vc é um grande homem!

    Bjss

    Sueli

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  2. Poxa Sueli, fico até envergonhado de tanto elogio.

    Quem sabe este Blog não vira um livro. Pode ser. Mas por enquanto vou focar em terminar ele, ainda falta muito da história para contar, e olha que nem cheguei na parte do caminho ainda, estou só esquentando os tamborins. :)

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