domingo, 20 de janeiro de 2013

Vou de Trem. (Madrid - Pamplona)

Vou de trem! Vou para Pamplona!
Esse foi o bonitão que me levou.
Quando o pessoal da RENFE chegou no guichê da plataforma de embarque eu fui direto para a fila, queria muito entrar no trem o quanto antes, pegar meu lugar sabe.

Eu havia comprado a passagem em uma promoção no website da RENFE, era localizada na parte que os espanhóis chamam de Preferente, no caso este tipo de passagem fica em uma área mais reservada do trem, logo na frente, primeiro vagão, o meu assento era o de número dois e para complementar eles serviam refeições neste vagão.

Sabe, essa era talvez minha última chance de me sentir turista na Europa, quero dizer, curtir como turista, já que uma vez no Caminho eu sei que a coisa iria ser dura, a vida ia ser mais simples, sem regalias. Valeu a pena pagar $15 Euros adicionais para ter mais espaço, conforto e comida, um pequeno luxo antes da entrega total de corpo e alma ao Caminho.


Minha passagem de trem para Pamplona.
Minha passagem da RENFE.
Entrei no vagão, fui direto para meu assento, joguei minha mochila no bagageiro superior, feito em vidro, sentei-me e logo na minha frente existia uma mesinha compartilhada com o assento número um que ficava de frente para mim.

Joguei minhas coisas em cima da mesinha, dominei o lugar, o trem não me parecia muito cheio, ainda mais na parte da frente.

Na mesinha do trem para Pamplona.
Pochete, boné, óculos, passagem e o os fones de ouvidos dentro da cachinha da RENFE.

Fiquei ali um bom tempo aguardando dar o horário certo da partida. Nem acreditava que já estava lá, sentado no trem para Pamplona. Esta seria uma viagem de aproximadamente três horas e meia, mas valeria a pena, adoro viajar de trem, já havia um bom tempo que não o fazia.

As quinze horas, cinco minutos e trinta e cinco segundos partimos de Madrid, impressionante como essas coisas funcionam na Europa, super pontuais e com muita organização.

Hora de partir!
#partiu!


Logo no começo não se vê muita coisa, afinal ainda estamos em perímetro urbano e algumas paredes protegem a linha férrea. Conforme o Trem ia ganhando velocidade esses bloqueios visuais iam sumindo e o visual ficava mais abrangente.

Comecei a reparar em algumas poucas pessoas que estavam no mesmo vagão que eu, aquelas que estavam meio que próximas a mim. Duas cadeiras para trás na mesma fileira que eu estava um senhor de óculos com lentes redondas lia um livro. Do meu lado direito estava um casal, esses bem no estilo mochileiros pela Europa. Mais para trás estavam mais duas pessoas, duas senhoras, sentadas em lugares distintos.

O monitor localizado no teto do trêm e replicado em alguns lugares estratégicos começou a passar um filme, nem lembro qual era, não queria ver filme nenhum, queria aproveitar a viagem, me ligar no visual daquela região.

Tirei a bota e fiquei de meias, não tava nem ai pro chulé, afinal os mochileiros fizeram o mesmo e não tinha como dizer quem seria o dono do mal cheiro, mas meus pés estavam bem cansados da caminhada por Madrid.

Este era um trem bem rápido, não era um trem ultrarrápido, a Espanha tem poucos trens ultrarrápidos, mas este já era rápido o bastante para deixar a maioria dos trens no Brasil a comer poeira.

Depois de uns quinze minutos de viagem a paisagem começou a mudar novamente e foi se transformando drasticamente, o horizonte se abriu e os campos da Espanha se mostraram lindos na minha frente.

Vista do trem para Pamplona.
Vista da janela no trem para Pamplona.
Dom Quixote ia passar mal se a história se passasse nos dias de hoje.

Eram centenas de tons de cores, do verde ao amarelo dominante, aquela paisagem rural me deixou estarrecido, e pensar que eu, dentro de alguns dias, talvez estivesse passando por ali mas desta vez seria com os meus próprios pés.

Tive a sensação de estar me transportando no tempo, a paisagem com misto de plantações e aridez não tinha nada a ver com minha vida urbana e agitada da metrópole.

Outra coisa intrigante era a imensa quantidade de geradores de energia eólicos, eles permeavam a paisagem, por vezes somente um ou dois bem ao longe, por vezes uma dezena deles bem próximos da linha do trem. Com tantos geradores assim Dom Quixote De La Mancha ia desistir de sua viagem nos primeiros quilômetros, seria um exército imbatível de monstros, pelo menos na visão dele.

Essa viagem de trem foi a coisa mais certa a se fazer. Meu ritmo foi desacelerando, entrando no ritmo do lugar, conforme a paisagem ia ganhando o horizonte minha cabeça comeu a entender melhor o que eu ia enfrentar, por onde ia passar. Estava me preparando para o momento do início, abrindo portas que estavam fechadas em minha mente, dando espaço para o Sol entrar e iluminar a casa.

Foi também durante a viagem de trem que dei início a duas coisas importantes:


Marcel no trem para Pamplona.A primeira era começar a documentar meus pensamentos e impressões da viagem em um Moleskine. Este Moleskine tinha a capa na cor prata e como ganhei de brinde nesta capa havia o logo da Microsoft OEM estampado. Já dentro, no canto esquerdo do Moleskine havia um recorte onde repousava uma caneta, bem prático e difícil de perder, assim quando quisesse tomar notas era só pegar meu Moleskine e usar a vontade.

A segunda tinha o mesmo objetivo de gravar minhas impressões porém em vídeo, guardando exatamente o momento que eu estava passando. Já havia feito alguns testes antes, com duração de vídeo bem pequena só para entender a dinâmica. O que eu já havia de cara percebido é que tinha que usar a parte frontal da câmera do iPhone para fazer esses vídeos, assim eu conseguiria me ver e enquadrar bem a filmagem e ao mesmo tempo como a câmera frontal tem uma resolução menor não ocuparia tanto espaço de armazenamento, o que já era crítico naquele momento, eu tinha só 04GB para fotos e vídeos, muitas músicas e fotos antigas ainda estavam no meu iPhone, depois, mais para frente da viagem, eu devo fazer uma limpeza e deixar somente o que realmente importa, desse modo aumento o espaço de armazenamento.

Abaixo o primeiro vídeo que gravei e que farei pelo menos um por dia durante a viagem:


Depois de vários momentos onde o trem reduzia a velocidade e depois retomava, depois de inúmeros túneis, pequenas paradas em algumas cidades e um visual que cada vez mais ia se modificando e se tornando especial cheguei em Pamplona cheio de esperança e com imensa vontade de já começar o Caminho de Santiago de Compostela, afinal nunca estive tão perto!

Mas era preciso ter calma, afinal esta noite ainda dormirei em um hotel, amanhã já será em um albergue.

O trem parou, peguei minha mochila, fui o último a sair do vagão, estava um dia ensolarado, lindo, temperatura quente mas agradável.

Andei até o meio da pequena estação e me deparei com um letreiro bem grande que ficava em cima da porta de saída da plataforma, um imenso PAMPLONA estava lá, acompanhado do relógio que marcava exatamente a hora que cheguei (18:30) e a placa de saída escrita em duas línguas, Espanhol e Basco.

Estção de trem de Pamplona - Espanha.

Agora só precisava encontrar meu hotel, tomar um banho e curtir o final do dia em Pamplona, descansar, até porque em breve não vou parar de andar.

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